terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Avaliação

Recentemente, um casal que aplica homeschooling com seus dois filhos me pediu para avaliar o desenvolvimento dos mesmos, e isto me inspirou a escrever sobre alguns cuidados que devemos ter ao avaliar os processos educativos.
Primeiramente, gostaria de lembrar que, como já trabalhamos em outras postagens, não devemos avaliar o educando, mas o processo de ensino-aprendizagem. Isso faz alguma diferença? Não... Isso faz TODA a diferença.
Avaliar o educando significa classificar a criança, atribuindo um conceito a ela ao compará-la com outro sujeito ou a um padrão desejável que, na maioria dos casos, é bastante abstrato. Fruto direto desse tipo de avaliação são as notas, através das quais dizemos que o sujeitinho é um aluno 75, ou que teve 75% de aproveitamento, ou que é um aluno B, etc. Esse tipo de avaliação, baseada em notificação ou conceituação, é pouco eficiente, pois, quando muito, mostra que existe um problema sem, contudo, revelar qual é esse problema ou apontar alguma saída para o mesmo.
Com efeito, que benefício haveria em dizer que uma criança tirou 5,7 em uma prova? De que serve isso? Objetivamente para nada além de classificar esse educando, segregá-lo e mostrar que há alguma coisa errada.
O que propomos não é a avaliação do sujeito, mas do processo.
Desta forma, ao avaliar deveríamos estar respondendo às seguintes perguntas:

  1. Existe um problema?
  2. Qual é esse problema?
  3. Qual é a possível causa desse problema?
  4. Quais são as possibilidades de sanar essa falha?

Isto não quer dizer que os instrumentos a serem utilizados para a avaliação serão totalmente diferentes, mas que o tratamento dado aos resultados será outro. Por exemplo: digamos que em um trabalho de geografia, a criança demonstre 83% de aproveitamento nas questões propostas. Em vez de simplesmente dar 8,3 para o trabalho do filho e “passá-lo”, os pais deveriam analisar quais foram os 17% que faltaram e por que faltaram. Se a criança não assimilou as informações, será necessário repassá-las novamente de uma forma diferente, ou por meio de uma linguagem mais adequada. Se o problema foi uma não compreensão do enunciado do trabalho, talvez fosse importante reelaborar esse enunciado e/ou utilizar outra estratégia para comprovar se o educando compreendeu ou não os conceitos. Talvez a criança esteja com dificuldades de interpretação de texto, ou talvez não conheça algum vocábulo utilizado no enunciado. Ainda há a possibilidade de o sujeitinho simplesmente ter se distraído em algum momento do trabalho, ou de não estar bem fisica ou emocionalmente.
Como podemos perceber, esse tipo de avaliação qualitativa, não somente demonstra o progresso do processo de ensino-aprendizagem, como aponta os próximos passos do mesmo. Se a falha está na interpretação textual, os pais devem trabalhar isso; se está na transmissão das informações, idem.
Ao avaliar, os pais devem ter esse cuidado: de não somente avaliar a criança, mas avaliar o progresso da criança, avaliar os métodos utilizados, a linguagem utilizada, o material didático e avaliar a si mesmos enquanto preceptores.
Neste sentido, a avaliação não deve ficar restrita a “provas” ou trabalhos específicos ao final de um período, mas deve ser uma prática constante em todo o processo. Todos os dias devemos estar avaliando nosso desempenho enquanto ensinadores, a resposta dos educandos e a efetividade dos métodos e materiais. É essa avaliação qualitativa e constante que permitirá um progresso permanente na qualificação do ensino e da aprendizagem domiciliar.
Mas, devemos ou não avaliar o educando? Sim e não...
Ora, sem contradição alguma: não devemos considerar a avaliação como um processo em que meramente avaliamos o sujeito educando. Entretanto, analisar os progressos e deficiências no desenvolvimento da criança é fundamental para uma avaliação qualitativa e global.
Referente a isso, cabe ressaltar que não tratamos aqui de comparar a criança com outros sujeitos, nem com um padrão abstrato. Avaliar um educando é comparar ele com ele mesmo.
Como podemos avaliar um sujeito comparando ele com ele mesmo? Simples (ou nem tanto): constatando onde e como a criança estava em termos de conhecimentos e habilidades/competências quando o processo foi iniciado e onde e como ela está agora. Isso irá mostrar seu progresso real, explicitando quais informações memorizou, quais conhecimentos assimilou e quais habilidades/competências desenvolveu.
É interessante notar que, durante esse processo, também será possível constatar quais são as principais aptidões e deficiências do sujeitinho. Isso permitirá futuras intervenções muito mais eficientes quanto à qualificação do processo e direcionamento da criança.
Para finalizar, gostaria apenas de apontar, como já fiz em artigos anteriores, a necessidade de não limitarmos a avaliação a modelos tradicionais de provas no estilo “pergunta e resposta”. Esses trabalhos podem ser utilizados e possuem seu valor, mas não devem ser os únicos. Devemos avaliar o processo pela observação, pela auto-análise, pelo diálogo entre todos os envolvidos no processo (inclusive com o educando) e pela produção intelectual. Este último item refere-se a tudo o que a criança produz com base em seu aprendizado e será a ferramenta mais preciosa para determinar exatamente o que a criança realmente está aprendendo.
Que tipo de produto intelectual podemos requerer? As possibilidades são infinitas... Mas aí vão alguns dos mais conhecidos e adaptáveis:

  • Redações;
  • Trabalhos de pesquisa;
  • Histórias em quadrinhos baseadas nos conhecimentos trabalhados;
  • Cartazes;
  • Resumos;
  • Poemas baseados nos conhecimentos;
  • Apresentação oral;
  • Teatros (encenações, teatros de fantoches, etc.);
  • Apresentação de slides;
  • Vídeos documentários;
  • Criação de jogos baseados nos conhecimentos;
  • Etc.

2 comentários:

  1. Olá Fábio! Muito bom o post! Tenho acompanhado com alegria! Continue postando!
    Ah, gostaria de te dizer uma coisa, talvez seja apenas seu estilo, mas toda vez que leio sujeitinho no post tenho que fazer esforço para soar positivo. Se gostar da sugestão, pessoinha seria mais ameno, só um toque. :)
    Até breve!
    Sol

    ResponderExcluir
  2. Olá, Sol!
    Obrigado por seu comentário...
    Na verdade, venho usando a expressão "sujeitinho" no sentido de considerar a criança como um "sujeito", ou seja, alguém que age, alguém que cria. Mas seu comentário me fez pensar sobre o assunto, e creio que nem todos enxergam essa expressão da mesma forma.
    Vou pensar sobre isso e tentar repensar os termos que estou utilizando.
    Mais uma vez: obrigado!

    ResponderExcluir

Agradeço sua participação... ela é muito importante!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...