segunda-feira, 17 de maio de 2010

Elementos integrantes do processo educacional e a Educação Domiciliar (Currículo)

Há vários fatores que permeiam o processo educativo, os quais também devem ser discutidos e analisados de maneira extensiva para que uma eventual experiência de educação domiciliar obtenha resultados satisfatórios. Portanto, passa-se a considerar alguns pontos relevantes em termos didático-pedagógicos, contrapondo as considerações realizadas pelos autores às observações realizadas sobre as experiências práticas.


Currículo

Diante da possibilidade de aplicação de uma educação domiciliar não se pode ignorar o fato de que se faz necessária a constituição de um currículo próprio, criado para atender às particularidades dessa modalidade de educação.


Por currículo se entende a síntese de elementos culturais (conhecimentos, valores, costumes, crenças, hábitos) que conformam uma proposta político-educativa pensada e impulsionada por diversos grupos e setores sociais cujos interesses são diversos e contraditórios, ainda que alguns tendam a ser dominantes ou hegemônicos, e outros tendam a opor-se e resistir a tal dominação ou hegemonia (ALBA apud VASCONCELOS, 2000, p. 99).


Como se pode constatar, o currículo é um elemento do processo educativo que possui grande profundidade, extrapolando o mero conjunto de conteúdos ou um simples planejamento de ações.
Dessa forma, há de se destacar que o planejamento desenvolvido para a experiência prática descrita no artigo anterior não poderia ser considerado um currículo adequado. Aliás, o referido plano nem ao menos poderia ser classificado como currículo, uma vez que contempla, unicamente, alguns assuntos a serem trabalhados, sem apresentar aprofundamento sobre as relações didáticas, políticas e filosóficas que deveriam permear as práticas docentes.
Através das observações realizadas pôde-se perceber que, justamente por essa falta de uma base curricular consistente, houve uma certa debilitação relativa ao direcionamento que os pais deveriam dar durante os momentos de ensino.
Esse défcit no potencial do processo educativo denuncia uma realidade na qual torna-se imperativa a existência de um currículo que possa nortear as práticas da modalidade domiciliar de educação no Brasil.
Seria contraditório propor um “enxerto” no qual se aplicaria à educação domiciliar o mesmo currículo da educação escolar, da mesma forma que seria desaconselhável a utilização de currículos vindos de outros países. O mais adequado seria o desenvolvimento de uma proposta curricular nova e característica para uma versão brasileira da educação domiciliar.
Entretanto, considera-se pertinente discutir, em primeira instância, o rompimento com um paradigma já há muito presente nos processos da educação oficial brasileira. Esse paradigma diz respeito às “Propostas Curriculares” criadas pelo Estado. Segundo Vasconcelos (2000), essas, que deveriam ser apenas orientações gerais para os pedagogos e seus pares, acabam se tornando dogmas, ideias que necessariamente devem ser levadas a cabo. Segundo o autor, é importante que cada instituição escolar “elabore seu currículo, dialogando com as orientações dadas, mas tendo em vista a realidade concreta em que se encontra, fazendo suas opções e compromissos” (VASCONCELOS, 2000, p. 99-100).
Dessa forma, para a elaboração de um currículo coerente com a educação domiciliar, deve-se sim considerar os nortes apresentados pelo Estado, realizando as devidas adaptações para a realidade característica da modalidade, bem como das famílias que venham a aplicá-la.
Tratando, especificamente, da elaboração do currículo, Gutiérrez e Prieto (1994) apresentam características marcantes de um ensino alternativo ao tradicional que, acreditamos, devem ser levados em consideração durante a construção de um currículo para a instrução em casa. Segundo eles, o ensino deve:


  • ser participativo;
  • partir da realidade e fundamentar-se na prática social do estudante;
  • promover atitudes críticas e criativas nos agentes do processo (pai-educador e filho-educando);
  • abrir caminhos para a expressão e a comunicação;
  • promover processos e obter resultados;
  • fundamentar-se na produção de conhecimentos;
  • ser lúdico, prazeroso e belo;
  • desenvolver uma atitude pesquisadora.


Dessa forma, tendo em vista as necessidades da modalidade domiciliar de educação, bem como as características (já apresentadas) de um processo de ensino-aprendizagem consistente, participativo, eficiente e significativo, a construção de um currículo (ou vários) deveria ocorrer de forma sistemática e com um embasamento teórico coerente, tendo como atores todos os envolvidos e interessados na modalidade.
Todo o processo de educação depende de um currículo adequado, o ensino domiciliar não é diferente.
Enfim, conclui-se que a inexistência de um currículo adequado às exigências da educação domiciliar se mostra como um entrave para a implementação desse sistema no Brasil. Assim, antes de qualquer prática relativa a essa modalidade, faz-se necessário discutir e elaborar de forma adequada uma proposta curricular que atenda às especificidade de um ensino que é dado no lar.

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