segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Educação Emocional

Com este artigo fecharemos a série de estudos sobre os cuidados que devemos ter ao ensinar nossas crianças em casa. Foram vários artigos interessantes e polêmicos, e creio que todos serviram para, pelo menos, nos fazer pensar um pouco mais sobre a prática pedagógica do homeschooling. Através dessa série, procurei abranger o máximo de áreas possíveis, para dar uma visão global das necessidades educacionais dos educandos domiciliares. E, no mesmo espírito dos demais artigos, hoje irei abordar uma faceta muito importante da educação que, infelizmente, muitas vezes, é deixada de lado por não ser essencialmente intelectual. Neste artigo iremos tratar dos cuidados necessários com o emocional do educando.
Por conta de uma super-valorização ilógica do cognitivo, tanto o corpo quanto as emoções foram segregadas a um patamar inferior na educação. Na verdade, a educação contemporânea por pouco não repudia totalmente a inclusão dos sentimentos e do cuidado destes quando se trata de instrução oficial – que grande erro!
Gostaria de tratar da educação emocional em duas perspectivas básicas. A primeira diz respeito à formação do próprio ser emocional. Por mais estranho que isso possa parecer, ou por mais difícil de acreditar que seja, todo ser humano também precisa aprender a ser emocional. Com isso não estou querendo dizer que um bebê nasce sem sentimentos – de forma alguma! Cada um de nós nasceu com um pacote básico de emoções. Porém, essas emoções nascem com a criança em um estado bruto, primal, intuitivo e bastante cru. Conforme o sujeitinho vai se desenvolvendo, essas emoções primárias vão se desdobrando e sendo lapidadas para tomar sua forma definitiva no início da puberdade.
Para deixar mais claro o que estou tentando dizer, permita-me usar um exemplo prático. Quando o recém-nascido sente fome, essa sensação física gera um incômodo emocional. O organismo do bebê sabe que há algo errado e gera uma reação cujo objetivo é resolver o problema. Nesse processo, a sensação física incômoda faz com que o emocional da criança seja abalado, gerando o que podemos chamar de “tristeza primal”. Essa tristeza primal não possui um nível de elaboração muito complexo, mas é eficiente ao produzir uma reação: o choro. Ao chorar, a criança está levando para o mundo externo uma representação de sua tristeza primal que, por sua vez, tem origem na sensação física de fome. Com o passar dos anos, esse mecanismo vai se aprimorando, e a tristeza primal vai deixando de ser um reflexo natural baseada em uma sensação essencialmente física, tornando-se uma correspondência afetiva relacionada à cosmovisão, aos valores e expectativas do sujeito. No início da puberdade vemos o surgimento da “tristeza real”, ou seja, aquela que não possui uma função prática e imediata como a primal, mas que é uma expressão do próprio ser, da própria personalidade da pessoa.
O processo que leva uma emoção “primal” a se tornar uma emoção “real” é natural. Entretanto, como todo processo de desenvolvimento natural, é passível de potencialização mediante intervenção educativa. O que isso quer dizer? Que podemos e devemos auxiliar nossas crianças guiando elas enquanto estão se desenvolvendo emocionalmente.
Ajudar a criança a se acalmar quando está agitada, ensiná-la a expressar sua frustração sem direcionar esse sentimento a outra pessoa, instruir em como lidar com sentimentos de perda ou rejeição... Tudo isso faz parte de uma educação emocional, cujo objetivo é tornar a criança um sujeito emocionalmente equilibrado e saudável.
Cada pai, naturalmente, já exerce esse tipo de educação – por exemplo: quando a mãe abraça o filho e diz que vai ficar tudo bem enquanto a criança chora desesperada pela morte de seu animalzinho de estimação. Isso é educação emocional! Instruir emocionalmente é algo inerente à paternidade/maternidade. Somente devemos ter o cuidado de não desvalorizarmos isso, nem deixar isso de lado. Devemos compreender que os sentimentos das crianças ainda estão amadurecendo, e que nossa ajuda e orientação são essenciais para garantir a saúde emocional dos pequeninos.
Agora, gostaria de olhar para as emoções dos educandos domiciliares por outra perspectiva....
Ao educar intelectualmente e fisicamente, não podemos esquecer que as emoções estão envolvidas nesses processos – mesmo não sendo o objeto primário dos estudos. Isso quer dizer que, ao ensinar como ler, escrever, resolver problemas, etc., sempre estaremos tocando de alguma forma nos sentimentos do filho-aluno. Frases como “eu não gosto de matemática”, ou “que legal essa continha!” nos mostram que, definitivamente, há sentimentos envolvidos em todo processo educativo.
Devemos ter muito cuidado poi, muitas vezes, percebemos algum problema de aprendizagem que, na verdade, está sendo gerado por alguma questão emocional. Por exemplo: uma criança que se sente rejeitada pelo pai quando não consegue responder a uma questão com rapidez terá a tendência de não fazer esse tipo de atividade para não errar, ou irá “se afobar” muito para responder e, por conta disso, terá muito erros – mesmo sendo intelectualmente capaz de realizar a tarefa. Nesse caso, repassar o conteúdo novamente, utilizar métodos diferenciados ou aplicar mais exercícios não irá resolver o problema. A questão é emocional e, como tal, deverá ser tratada no nível os sentimentos. Os pais precisarão levar a criança ao ponto de compreender e sentir que não está sendo rejeitada. Ao se sentir segura, compreendendo o porquê da cobrança dos pais, o pequenino irá ter maior liberdade para aprender e se exercitar com prazer.
Esse cuidado com os sentimentos das crianças é essencial, e pode fazer toda a diferença em alguns casos.
Mas, atenção! Com isto não estou dizendo que os pais devem fazer todas as vontades de seus filhos, ou realizar todos os seus desejos. DE FORMA ALGUMA!!! Cuidar do emocional implica, muitas vezes, em dizer “NÃO”, em gerar situações de atrito e em exigir que a criança faça coisas que não tem vontade. Esse tipo de prática, por mais difícil que seja, é essencial, pois leva as emoções a amadurecerem para lidar de forma correta com a negação, as limitações e as contradições.
Esse é um tema muito interessante e bastante profundo. Portanto, não tentarei exaurir todas as possibilidades de comentários e discussão neste artigo. Ao contrário, usarei este texto como ponte para futuras postagens relacionadas ao tema. Entretanto, encerrando nossa série sobre cuidados, não posso deixar de dizer que devemos ter um cuidado redobrado com o emocional de nossas crianças.
Ao ensinar em casa, devemos ter um olhar de cuidado global, pois nossos filhos possuem muitas necessidades. E essas necessidades abrangem inúmeras e diferentes áreas. Afinal, nossas crianças são seres intelectuais, físicos e emocionais – são seres humanos!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Educação Física

Algum tempo atrás falamos sobre a importância dos esportes para o desenvolvimento de inúmeras habilidades e competências importantíssimas para a criança. Usando esse “gancho”, nesta semana iremos falar sobre um outro cuidado relacionado ao corpo: a educação física.
Mas, cuidado! Não confunda a educação física tratada neste artigo com a disciplina homônima existente na grade curricular das escolas. Aqui estamos nos referindo a instruções educacionais cujo objetivo é a manutenção do corpo físico e o pleno desenvolvimento de suas capacidades, integrando esse desenvolvimento físico ao intelectual, emocional e sócio-afetivo.
Neste sentido, precisamos ter o cuidado de não negligenciar a educação física quando estamos ensinando nossos filhos em casa. Afinal, muitas vezes, o desenvolvimento intelectual é super-valorizado em detrimento ao desenvolvimento físico.
O que precisamos ter em mente é que, apesar da super-valorização do intelectual que vemos na contemporaneidade, o ser humano não é somente intelecto. Cada um de nós é formado por um corpo físico e por uma alma (mente, volição e emoções). Tenho certeza que alguns acrescentariam o espírito a essa equação, porém, não entrarei nessa discussão – pelo menos, não por enquanto. Quando transmitimos informações aos alunos domiciliares, estamos trabalhando em um nível mental com eles – desenvolvendo somente uma parcela do seu ser. Entretanto, o desenvolvimento de uma pessoa deve ser global e total, abrangendo todas as áreas de sua existência. Devemos desenvolver a mente sim, mas sem esquecer das emoções e do corpo da criança.
Na verdade, várias pesquisas têm demonstrado através dos anos que há uma correlação muito estreita entre o desenvolvimento corporal e o mental de cada pessoa. Muitos pesquisadores relatam como o desenvolvimento de certas habilidades mentais requer a existência de competências físicas prévias.
Podemos citar como exemplo a lateralidade. O nível de desenvolvimento da lateralidade será determinante para a aquisição da habilidade de leitura e escrita. O problema do “posicionamento da barriga” durante a escrita das letras “b”, “d”, “p” e “q” está diretamente ligado à capacidade de compreensão que a criança tem de espaço e direção. Uma criança com lateralidade amplamente desenvolvida irá passar mais rapidamente por essa fase problemática – ou poderá nem passar por ela!
Além dessa questão dos requisitos físicos para o desenvolvimento de competência intelectuais, a educação física também se mostra uma necessidade porque é através dela que os pais ensinarão a seus filhos como cuidar de seu corpo e de sua saúde. Cada pai-mestre deve instruir seus filhos-alunos sobre a importância de praticar exercícios físicos, realizar alongamentos quando de um longo período na mesma posição ou fazendo movimentos repetitivos, etc.
A higiene pessoal também faz parte da educação física e, com certeza, deve estar presente na instrução dada pelos pais aos seus filhos durante os momentos de educação domiciliar.
Mas, falemos da parte prática... Como deve-se desenvolver essa educação física? É necessário haver um horário todos os dias para a execução desse tipo de instrução? Não necessariamente...
Cada família deve analisar sua situação e determinar qual é a melhor forma de instruir suas crianças sobre como cuidar do próprio corpo. Mas minha sugestão é que, a cada dia, pelo menos meia hora seja investida em alguma atividade física. Seja um bate-bola, uma brincadeira de pega-pega, corrida, natação, etc.
Já as instruções relacionadas a como cuidar do corpo e da higiene podem ser dadas durante o dia, em momentos não oficiais de instrução. Mas nada impede que haja um tempo, uma ou duas vezes por semana, no qual o pai ou a mãe trabalha especificamente algum conceito da educação física.
Aí vão algumas ideias do que fazer para ajudar a educar fisicamente uma criança:

  • Utilizar brincadeiras (como siga o líder) para desenvolver a lateralidade da criança, mexendo com noções de direita, esquerda, em cima, em baixo, etc;
  • Permitir que a criança desenvolva sua coordenação motora fina através das fases de desenvolvimento (utilizar massa de modelar, tesoura, lápis de cera, lápis grosso, lápis fino, caneta, etc.);
  • Criar o hábito de praticar alguma atividade física todos os dias (jogando bola, correndo, nadando, etc.);
  • Instruir sobre a importância e a forma correta de praticar a higiene pessoal;
  • Misturar trabalhos intelectuais com físicos, pedindo que parte da atividade seja desenvolvida através da escrita, pesquisa ou oralidade, enquanto outra parte seja apresentada através de algum jogo ou encenação que utilize movimentação e utilização ativa do corpo.

Independentemente das estratégias utilizadas, o importante é que não deixemos a educação física em segundo plano. Ao contrário, devemos pensá-la e aplicá-la como uma parte essencial do desenvolvimento humano de nossas crianças, pensando na forma mais adequada de proporcionarmos aos nossos filhos um desenvolvimento total e global.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Exposição

O medo de muitos pais é ser denunciado por ensinar os filhos em casa, e esta semana vamos falar um pouco sobre isso. No mês de julho escrevi um artigo sobre essa temática, intitulado “Como não ser denunciado por ensinar em casa”, e sugiro que você leia ele antes de continuar com o post desta semana.
No texto de julho trabalhei vários aspectos que deveriam ser observados. Hoje, entretanto, gostaria de abordar algo diferente: a necessidade de trabalhar com a criança para que ela mesma não exponha sua situação a outrem.
Como vocês devem saber melhor do que eu, a maioria das crianças é muito espontânea e, por isso, acaba relatando às pessoas mais do que deveria. Creio que cada pai poderia descrever inúmeras situações engraçadas e/ou constrangedoras pelas quais passou por conta da espontaneidade de seus filhos. Entretanto, quando se trata de uma situação delicada como a educação domiciliar, essa espontaneidade pode culminar em algo muito mais incômodo do que um mero constrangimento passageiro...
Creio que todos já devam ter percebido que “educação” é, sem dúvida, um dos temas preferidos quando um adulto pretende conversar com uma criança. Basta você encontrar um amigo ou conhecido enquanto faz compras com seu filho para que esse adulto comece a perguntar sobre a educação sistematizada da criança. Algumas das perguntas mais frequentes são:

  • Você já vai pra escola?”
  • Em que ano você está?”
  • Você já saber ler/escrever?”
  • Em qual escola você estuda?”
  • Você gosta da sua professora?”

E qualquer uma dessas questões poderia disparar respostas como: “Eu não vou pra escola”; “Eu estudo em casa”; “Minha professora é minha mãe”, ou algumas mais complicadas ainda, tais como: “Meus pais acham que a escola é muito ruim e nunca vão me mandar pra lá”.
Já ouvi relatos de pais que se encontraram em situações muito delicadas quando seus filhos relataram abertamente a estranhos que não iam à escola, e que eram ensinados pelos próprios pais em casa. Felizmente os pais souberam tratar da situação e não houve problemas maiores, mas, a partir de então, buscaram trabalhar com seus filhos para que os mesmos episódios não se repetissem.
Se uma família pretende manter em sigilo sua opção de educar as crianças fora da escola, se faz necessário um cuidado especial para que o próprio filho-educando não exponha essa situação. Mas, como fazer isso?
A primeira dica prática é evitar que a criança fique muito tempo conversando sozinha com outro adulto. Nos dias de hoje, por conta da violência e atos bárbaros que vemos todos os dias nos noticiários, os pais não deixarem seus filhos sozinhos é uma obrigação, e não um mero cuidado. E esse cuidado deve abranger, também, o cuidado para direcionar as eventuais conversas que um outro adulto possa ter com seu filho.
Você pode sim permitir que um outro adulto converse livremente com seu filho. Entretanto, quando surgir perguntas referentes à “escola”, tente mudar de assunto, ou desconversar. Faça de uma forma natural, dizendo coisas como: “Puxa, mas as crianças aprendem rápido, né? O meu filho está aprendendo a ler super rápido!”. Dessa forma, o foco da conversa mudará para o conteúdo aprendido, deixando de lado o local do aprendizado. Provavelmente, o outro adulto irá mudar sua pergunta para algo assim: “Ah, é? Então você já está aprendendo a ler?”.
Seja criativo, e tente direcionar a conversa para “longe” dos detalhes referentes ao locus da aprendizagem.
A segunda dica é conversar com a criança e explicar a situação de forma clara e aberta. As crianças possuem uma capacidade de compreensão muito maior do que imaginamos, e elas estão aptas a entender quando estão em uma situação delicada que precisa de cuidados. Aí cai um modelo do que pode ser dito:
Filho, preciso pedir um favor. O papai e a mamãe acham que o melhor pra você é estudar aqui em casa, junto com a família, mas existem pessoas que acham isso ruim e podem tentar obrigar a gente a te mandar pra escola. Se isso acontecer, o papai e a mamãe podem ter que pagar muito dinheiro e, talvez, até ir pra cadeia. Então, pra isso não acontecer, essas pessoas não podem ficar sabendo que você estuda aqui em casa, tá bom! Não conta pra ninguém!”
Você pode adaptar isso conforme a idade e a compreensão de seu filho, mas eu garanto que ele vai entender e fará todo o possível para evitar que outras pessoas saibam de sua situação.
Agora, o que fazer se algum adulto fizer uma pergunta direta para a crianças sobre isso e não houver como os pais interferirem? Aí entra a terceira dica: treine respostas programadas com seu filho. Converse com seu filho e treine com ele para que dê respostas genéricas que não sejam mentira, mas que responde às perguntas sem explicitar a educação domiciliar. Vejamos alguns exemplos:

  • Pergunta: Onde você estuda?”
    Resposta:Eu estudo no bairro tal
  • Pergunta: Como é o nome da sua escola?”
    Resposta:Eu não sei o nome... Só sei que estudo no meu bairro”

É claro que não há como prever todas as perguntas que podem ser feitas, nem imaginar o grau de insistência que as pessoas terão ao perguntar sobre isso. Mas é possível preparar as crianças para responder minimamente “despistando” qualquer possível denunciador.
As famílias que têm feito isso me informaram de que tem sido eficiente, e que não passaram por mais situações complexas após aplicarem essas 3 dicas. Entretanto, espero que mais pessoas possam contribuir relatando suas experiências e estratégias pessoais, pois, neste quesito, realmente não há teoria pedagógica que possa nos ajudar.
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