segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Socialização

E, mais uma vez, voltamos ao assunto que se constitui, hoje, o segundo aspecto mais polêmico sobre a educação não-escolar no Brasil: a socialização.
Como a maioria de nós já sabe, um dos maiores questionamentos sobre a aplicabilidade da educação domiciliar em nosso país (e em outros também) diz respeito à suposição de que essa modalidade impediria ou dificultaria o desenvolvimento social das crianças. Creio que já discutimos isso o suficiente para dizer, com certeza, que tal preocupação não possui respaldo científico ou empírico. Uma criança ensinada em casa (ou em qualquer outro ambiente) pode muito bem se desenvolver socialmente de forma plena e saudável.
Entretanto, não podemos ignorar o fato de que é necessário sim um cuidado especial para que o aluno domiciliar vivencie constantemente situações de convívio social.
Por que digo isso? Porque a rotina do ensino em casa pode nos levar a uma acomodação não-intencional ou a uma distração involuntária que poderá redundar em déficit no desenvolvimento social de nossas crianças. Não estou afirmando que isso irá efetivamente ocorrer, mas que devemos agir de forma consciente e consistente para evitar que isso ocorra.
Neste sentido, os pais que estão instruindo seus filhos devem planejar atividades que, de alguma forma, propiciem um ambiente no qual as crianças possam entrar em contato com sujeitos de outras faixas etárias, advindos de outros locais geográficos, de outras famílias, culturas, etc. E não somente o contato deve ser propiciado, mas a interação – pois é interagindo com o “outro” que a criança irá desenvolver habilidade social e competências relacionais.
O contato com a diversidade, bem como o relacionamento com outras pessoas é muito importante para ajudar a criança a se preparar para a interdependência social que encontrará enquanto adulto.
De que forma podemos proporcionar esse contato social? Há várias opções. Vejamos algumas delas:

  • Escolinhas de esportes (futebol, basquete, natação, artes marciais, ginástica, etc.);
  • Escolas de artes (desenho, pintura, dança, instrumentos musicais, canto, etc.);
  • Cursos de línguas;
  • Cursos de informática;
  • Passeios em praças e/ou parques comunitários;
  • Atividades religiosas/espirituais;
  • Participação em gincanas, concursos, etc;
  • Ruas de lazer;
  • Envolvimento com atividades folclóricas/culturais;
  • Participação em momentos de estudo com outros alunos domiciliares;
  • Atividades educacionais que requerem contato pessoal (entrevistas, micro-biografias, pesquisas estatísticas, etc.).

Enfim... Há inúmeras possibilidades para gerar contato social entre a criança e outros sujeitos. Entretanto, é importante ressaltar que essas atividades planejadas não são a única forma de socialização. O simples fato de permitir que a criança brinque com seus primos, vizinhos ou que tenha contato espontâneo com qualquer outra pessoa já constitui trocas e relações muito valiosas para o desenvolvimento da habilidade social.
Tanto a socialização planejada quanto a espontânea são importantes, e devemos ter cuidado para permitir que ambas existam no dia-a-dia do educando domiciliar.
Mas, voltando aos contatos sociais planejados, gostaria de destacar a importância e as vantagens de um deles. Provavelmente, no futuro, poderemos discutir sobre várias outras atividades, mas, neste momento, gostaria de abordar o grande benefício proporcionado pela prática do esporte.
Deixando um pouco de lado os benefícios de ordem física e fisiológica (que são inegáveis), é perceptível que a prática do esporte auxilia em muito no desenvolvimento de várias noções essenciais ao sujeito social contemporâneo. Vejamos algumas delas:

  • Regras – todo e qualquer esporte/jogo é formado, essencialmente, por regras. É interessante notar que um jogo é divertido somente se suas regras forem seguidas. Se não houvesse regras, cada jogador poderia fazer o que bem entendesse, o esporte/jogo ficaria sem sentido e, dessa forma, deixaria de ser divertido. Ao compreender que para se divertir será necessário seguir as regras do esporte, a criança está desenvolvendo o conceito de “regras” e de “condutas adequadas”, bem como a noção de importância da existência de regras para o ser humano;
  • Ordem – ao praticar um esporte/jogo, a criança também passa a compreender melhor a necessidade de ordem, de organização, de coordenação. Para ter sucesso na atividade, o sujeitinho precisará aprender a agir de forma adequada, no tempo adequado e com a ordem necessária. E todos concordamos que essas noções também serão muito importantes para ele em sua vida cotidiana;
  • Trabalho em equipe – muitos esportes/jogos são coletivos e, por isso, requerem a ação em grupo. Para se divertir e, talvez, vencer, o indivíduo precisa desenvolver a competência de agir de forma coordenada juntamente com um ou mais companheiros. Inclusive, com o tempo e a maturidade, a criança irá perceber que quanto mais integração há entre os membros da equipe, mais eficiente ela se torna. Em uma sociedade tão interdependente quanto a nossa, essa competência proporcionada pelo jogo coletivo se torna imprescindível;
  • Disciplina/Auto-controle – o treino e a preparação são elementos presentes em qualquer esporte/jogo (seja visando uma competição ou não). Ao escolher privar-se de algo, ou decidir realizar uma atividade que requer sacrifício, o atleta está exercendo disciplina sobre si mesmo. E essa disciplina mostra-se outra habilidade essencial para qualquer ser humano. Quanto mais cedo a criança começar a aprender como se disciplinar e se auto-controlar, mais saudável será seu desenvolvimento sócio-afetivo. Aprender a lidar com a derrota, saber como agir com os adversários e com os colegas de equipe que falharam de alguma forma são experiências riquíssimas para uma criança que está se desenvolvendo socialmente;
  • Motivação – por fim, a motivação necessária para o exercício de qualquer esporte/jogo irá ajudar o sujeitinho a desenvolver sua habilidade de se automotivar quando necessário, buscando a energia emocional e a atitude mental necessárias para a efetivação das atividades e para que os objetivos propostos sejam alcançados.

Como vocês podem perceber, a prática de esportes e/ou jogos se mostra uma atividade extraordinária para a socialização dos alunos domiciliares. Entretanto, não se faz necessário que essa prática seja realizada em escolinhas particulares ou em instituições pagas. A prática do esporte pode ocorrer no campinho perto de casa, ou no parque, ou em qualquer outro local, mesmo sem a existência de um instrutor profissional. O importante é que o esporte seja praticado. Quem sabe, você mesmo possa reunir as crianças da rua, ou da quadra, ou outros alunos domiciliares, e começar a realizar alguns treinos de algum esporte uma vez por semana. Mais importante do que o profissionalismo do treinador ou do que vitórias em campeonatos é a possibilidade de desenvolvimento sócio-afetivo das crianças.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Avaliação

Recentemente, um casal que aplica homeschooling com seus dois filhos me pediu para avaliar o desenvolvimento dos mesmos, e isto me inspirou a escrever sobre alguns cuidados que devemos ter ao avaliar os processos educativos.
Primeiramente, gostaria de lembrar que, como já trabalhamos em outras postagens, não devemos avaliar o educando, mas o processo de ensino-aprendizagem. Isso faz alguma diferença? Não... Isso faz TODA a diferença.
Avaliar o educando significa classificar a criança, atribuindo um conceito a ela ao compará-la com outro sujeito ou a um padrão desejável que, na maioria dos casos, é bastante abstrato. Fruto direto desse tipo de avaliação são as notas, através das quais dizemos que o sujeitinho é um aluno 75, ou que teve 75% de aproveitamento, ou que é um aluno B, etc. Esse tipo de avaliação, baseada em notificação ou conceituação, é pouco eficiente, pois, quando muito, mostra que existe um problema sem, contudo, revelar qual é esse problema ou apontar alguma saída para o mesmo.
Com efeito, que benefício haveria em dizer que uma criança tirou 5,7 em uma prova? De que serve isso? Objetivamente para nada além de classificar esse educando, segregá-lo e mostrar que há alguma coisa errada.
O que propomos não é a avaliação do sujeito, mas do processo.
Desta forma, ao avaliar deveríamos estar respondendo às seguintes perguntas:

  1. Existe um problema?
  2. Qual é esse problema?
  3. Qual é a possível causa desse problema?
  4. Quais são as possibilidades de sanar essa falha?

Isto não quer dizer que os instrumentos a serem utilizados para a avaliação serão totalmente diferentes, mas que o tratamento dado aos resultados será outro. Por exemplo: digamos que em um trabalho de geografia, a criança demonstre 83% de aproveitamento nas questões propostas. Em vez de simplesmente dar 8,3 para o trabalho do filho e “passá-lo”, os pais deveriam analisar quais foram os 17% que faltaram e por que faltaram. Se a criança não assimilou as informações, será necessário repassá-las novamente de uma forma diferente, ou por meio de uma linguagem mais adequada. Se o problema foi uma não compreensão do enunciado do trabalho, talvez fosse importante reelaborar esse enunciado e/ou utilizar outra estratégia para comprovar se o educando compreendeu ou não os conceitos. Talvez a criança esteja com dificuldades de interpretação de texto, ou talvez não conheça algum vocábulo utilizado no enunciado. Ainda há a possibilidade de o sujeitinho simplesmente ter se distraído em algum momento do trabalho, ou de não estar bem fisica ou emocionalmente.
Como podemos perceber, esse tipo de avaliação qualitativa, não somente demonstra o progresso do processo de ensino-aprendizagem, como aponta os próximos passos do mesmo. Se a falha está na interpretação textual, os pais devem trabalhar isso; se está na transmissão das informações, idem.
Ao avaliar, os pais devem ter esse cuidado: de não somente avaliar a criança, mas avaliar o progresso da criança, avaliar os métodos utilizados, a linguagem utilizada, o material didático e avaliar a si mesmos enquanto preceptores.
Neste sentido, a avaliação não deve ficar restrita a “provas” ou trabalhos específicos ao final de um período, mas deve ser uma prática constante em todo o processo. Todos os dias devemos estar avaliando nosso desempenho enquanto ensinadores, a resposta dos educandos e a efetividade dos métodos e materiais. É essa avaliação qualitativa e constante que permitirá um progresso permanente na qualificação do ensino e da aprendizagem domiciliar.
Mas, devemos ou não avaliar o educando? Sim e não...
Ora, sem contradição alguma: não devemos considerar a avaliação como um processo em que meramente avaliamos o sujeito educando. Entretanto, analisar os progressos e deficiências no desenvolvimento da criança é fundamental para uma avaliação qualitativa e global.
Referente a isso, cabe ressaltar que não tratamos aqui de comparar a criança com outros sujeitos, nem com um padrão abstrato. Avaliar um educando é comparar ele com ele mesmo.
Como podemos avaliar um sujeito comparando ele com ele mesmo? Simples (ou nem tanto): constatando onde e como a criança estava em termos de conhecimentos e habilidades/competências quando o processo foi iniciado e onde e como ela está agora. Isso irá mostrar seu progresso real, explicitando quais informações memorizou, quais conhecimentos assimilou e quais habilidades/competências desenvolveu.
É interessante notar que, durante esse processo, também será possível constatar quais são as principais aptidões e deficiências do sujeitinho. Isso permitirá futuras intervenções muito mais eficientes quanto à qualificação do processo e direcionamento da criança.
Para finalizar, gostaria apenas de apontar, como já fiz em artigos anteriores, a necessidade de não limitarmos a avaliação a modelos tradicionais de provas no estilo “pergunta e resposta”. Esses trabalhos podem ser utilizados e possuem seu valor, mas não devem ser os únicos. Devemos avaliar o processo pela observação, pela auto-análise, pelo diálogo entre todos os envolvidos no processo (inclusive com o educando) e pela produção intelectual. Este último item refere-se a tudo o que a criança produz com base em seu aprendizado e será a ferramenta mais preciosa para determinar exatamente o que a criança realmente está aprendendo.
Que tipo de produto intelectual podemos requerer? As possibilidades são infinitas... Mas aí vão alguns dos mais conhecidos e adaptáveis:

  • Redações;
  • Trabalhos de pesquisa;
  • Histórias em quadrinhos baseadas nos conhecimentos trabalhados;
  • Cartazes;
  • Resumos;
  • Poemas baseados nos conhecimentos;
  • Apresentação oral;
  • Teatros (encenações, teatros de fantoches, etc.);
  • Apresentação de slides;
  • Vídeos documentários;
  • Criação de jogos baseados nos conhecimentos;
  • Etc.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Local de Estudo

Em termos bastante práticos, devemos ter um cuidado todo especial quando escolhemos e/ou organizamos um local específico de estudo para nossas crianças. A ergonomia educacional é algo que, apesar de parecer estritamente técnico, se constituiu como um grande potencializador do processo educativo.
Entretanto, antes de falarmos especificamente sobre os cuidados necessários ao se organizar o espaço educacional, cabe ressaltar que não estamos falando de um lugar que terá a exclusividade do conhecimento. Explico: o conhecimento está em toda parte, e pode ser adquirido em qualquer lugar. Toda criança está constantemente aprendendo, seja na rua, seja em casa, seja no parque, no campinho, no carro, etc. O conhecimento é inerente a todos os seres, objetos e espaços e, portanto, onde quer que a criança esteja, estará apta a apreender informações sobre e através desse local.
É importante que haja um espaço dentro de casa onde a criança terá o momento “oficial” de instrução. Isso é necessário para que o sujeitinho se organize e aprenda sobre os locais adequados para cada atividade. Porém, não podemos restringir o conhecimento/aprendizado a esse local. Devemos estar ensinando o tempo todo: na cozinha, na sala de estar, no banheiro, no jardim, etc. A vida e o cotidiano da criança deve ser uma grande aula que ocorre em diferentes espaços.
Feita essa ressalva, passo a considerar especificamente o espaço oficial de aprendizado”.
Da mesma forma que uma rotina de estudos ensina uma criança a diferenciar os requisitos de diversos momentos do cotidiano, um espaço oficial de aprendizado ensina os pequeninos as diferentes necessidades de locais/espaços dedicados a atividades específicas.
É óbvio que há diversas formas de se organizar um lar, mas, em geral, os espaços existentes e suas funções são, minimamente, entendidos. Há um espaço para dormir, um espaço para comer, um espaço para fazer as necessidades, um espaço para realizar a higiene, etc. Muitas vezes, a um espaço é atribuída mais de uma função, enquanto a mesma função também pode ser atribuída a mais de um espaço. Entretanto, apesar das diferentes formas de organização, sempre há a atribuição de funções aos espaços.
Neste sentido, o local oficial de estudos torna-se mais um dentre os muitos espaços com função específica. É nesse local que a criança irá receber boa parte das instruções, fará pesquisas, exercitará seus conhecimentos, organizará seu material de estudo, etc. Quando precisar meditar, se concentrar, se aprofundar em conhecimentos, esse local será um refúgio, um porto seguro, um espaço do conhecimento onde a criança estará totalmente livre para mergulhar na aprendizagem.
Pode-se aprender na cozinha? Sim! E deve-se! Mas haverá momentos em que a criança deverá estudar em um local onde não haja barulho de louças sendo lavadas, nem cheiros deliciosos para distraí-la de suas tarefas.
Pode-se aprender na sala de estar? Sim! E isso é maravilhoso! Mas, muitas vezes, o sujeitinho precisará ficar longe da tentação da TV para poder se concentrar em algum problema a ser solucionado.
Pode-se aprender no quintal? É evidente! E esse é um espaço excepcional para se aprender muito! Entretanto, haverá situações em que os animais, as plantas e os sons intrigantes dos vizinhos poderão ser um atrapalho grande, interferindo negativamente mais do que positivamente.
Dessa forma, vemos que na diversidade de espaços há diversidade de aprendizado, mas que tudo deve ser dosado e planejado de tal forma que o remédio não se torne veneno pela utilização equivocada.
É interessante notar, inclusive, que crianças ensinadas em casa apontam o espaço oficial de estudo como um dos seus locais preferidos na casa (isso quando não é apontado como o local mais agradável). Deveras, acredito que isso ocorre porque esse é o espaço em que o estudante pode mergulhar profundamente no conhecimento. Não há distrações. Não há atividades diversas. Há somente um objetivo: conhecer. A diversidade de todos os outros espaços do mundo proporciona uma quantidade infinita de informações que serão mastigadas, digeridas e assimiladas ali: no espaço oficial de aprendizado.
Creio que poderíamos passar muito mais tempo falando sobre a importância desse espaço, mas passemos para questões mais práticas: como deve ser esse local?
Uma vez que o espaço oficial de estudos será o ponto de partida para disparar o mecanismo de aprendizagem, e sendo que nele a criança irá “brincar” com os conhecimentos, mexendo e remexendo neles, analisando, assimilando as informações e dando o pontapé inicial para o desenvolvimento de capacidades/competências, é necessário que ele seja escolhido e organizado com muito cuidado, considerando a forma mais eficiente de se potencializar o processo de ensino-aprendizagem.
Neste sentido, vejamos os principais cuidados que deve-se ter ao escolher/preparar um local:

  1. Escolha um lugar SILENCIOSO. Rádio e televisão podem ser ferramentas úteis em vários momentos do aprendizado infantil, entretanto, também podem ser indesejáveis quando se há a necessidade de concentração. Portanto, escolha para seu filho um local de estudo longe desses aparelhos. Evite também locais próximos a telefones e outros aparelhos que possam gerar ruídos (constantes ou súbitos). O silêncio ajuda a maioria das crianças a se concentrar melhor e, assim, assimilar de forma mais efetiva conteúdos mais complexos e/ou teóricos. Mas, ATENÇÃO! Se seu filho não consegue se concentrar sem algum som (como música, por exemplo), seja cuidadoso ao incluir isso nos estudos. Procure evitar músicas com muita variação no ritmo ou na letra, e ajude seu filho a se disciplinar a ouvir a música num som baixo. Caso haja mais de uma criança aprendendo no mesmo espaço, considere a possibilidade de utilizar fones de ouvido para o que gosta de som (mas evite fones intra-auriculares, pois são mais prejudiciais para a audição a longo prazo).

  1. Opte por um espaço BEM ILUMINADO. Uma boa iluminação, não somente evita problemas de visão, como ajuda o educando a ficar mais concentrado e alerta. Se possível, planeje bem o local e o horário de estudos para que seja aproveitada a luz natural. Entretanto, se isso não for possível, escolha um espaço com boa iluminação artificial e analise se não é necessária uma luminária sobre a escrivaninha/mesa para garantir uma boa visão.

  1. Garanta que o local seja BEM VENTILADO. Ar fresco ventilando o tempo todo ajuda a evitar o cansaço mental e o sono. Nunca deixe seu filho estudando em um quarto fechado ou abafado. Garanta que haja uma abertura pela qual o ar possa entrar, e uma outra pela qual ele possa sair. Caso o ar esteja muito seco, coloque uma vasilha com água próxima à escrivaninha/mesa. Se for necessário um ventilador, coloque-o em uma posição que faça o ar circular, mas sem atingir diretamente o espaço de estudos – isso pode fazer com que anotações “voem”, ou que a criança se distraia tendo que segurar páginas para que não virem com o vento.

  1. Ajude seu filho a manter o espaço ORGANIZADO. A organização e a limpeza do espaço em que se estuda são fundamentais. É imprescindível que haja facilidade para se encontrar cadernos, anotações, livros e atividades quando necessário. Por isso, após o período de estudo, a criança deve desenvolver o hábito de organizar o local para que esteja pronto para ser utilizado no próximo dia de estudos. Obviamente, isso será mais difícil com as crianças menores. Entretanto, os pais poderão ajudar esse sujeitinho a aprender como fazer isso e, com o tempo, se disciplinar a manter seu espaço limpo e organizado. Isso não somente ajudará para a potencialização dos estudos, como irá desenvolver uma competência inestimável para a criança, que a utilizará em diferentes momentos de sua vida.

  1. Organize o local de estudo de seu filho para que seja ESTETICAMENTE AGRADÁVEL. Um local oficial de estudos precisa ser prático, mas também deve ser bonito. Um espaço agradável e de boa aparência ajuda a criança a ter mais ânimo e desejo para estudar. Neste sentido, utilize “enfeites” que possam ser utilizados durante o ensino ou que não sejam tão chamativos que possam distrair a atenção do educando. Opte, também, por cores quentes (vermelho, laranja, amarelo), pois estas fazem com que a criança fique mais alerta – diferente das cores frias (azul, lilás), que relaxam e dão sono.

Além desses cuidados necessários para a escolha do local oficial de estudos, outro cuidado que deve-se ter é utilizar uma cadeira e uma mesa/escrivaninha adequadas para evitar a má postura. A cadeira deve ser confortável e manter a coluna reta. Escolha, também, uma mesa que seja compatível com a altura da criança, evitando que ela tenha que se debruçar para ler ou escrever. Os mesmos cuidados devem ser tomados quando o aluno domiciliar irá utilizar computador.
Creio que estas sejam as principais questões que deverão ser observadas quanto ao espaço oficial de aprendizado da criança. Porém, se for necessário, poderemos tratar mais desse assunto no futuro.
Espero que tenha sido útil, e aguardo os comentários de todos.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Transmissão das Informações

Esta semana iremos abordar um aspecto bastante interessante do aprendizado: a transmissão das informações.
Para iniciar, talvez seja importante apontar uma diferença básica entre ensino e aprendizado. O aprendizado ocorre quando o sujeito “toma posse” de determinado conhecimento. Esse processo ocorre o tempo todo e é espontâneo – havendo a interferência de outro sujeito ou não. Já o ensino ocorre quando um sujeito age conscientemente e intencionalmente como mediador de certo conhecimento, repassando essa informação para outrem. Portanto, chegamos a duas conclusões:

  1. Pode haver aprendizagem sem ensino, mas não pode haver ensino sem aprendizagem;
  2. O ensino depende, necessariamente, da ação de um sujeito mediador do conhecimento.

Sendo que a aprendizagem pode ocorrer espontaneamente, sem a intervenção de um mediador, por que, então, ensinar? Porque o ensino potencializa o aprendizado. Quando se ensina da forma correta, o educando aprende mais, melhor e com mais rapidez.
Neste sentido, a forma como a informação será mediada/transmitida é muito importante, uma vez que irá determinar o nível de sucesso da aprendizagem.
A mesma informação pode ser transmitida de infinitas formas, utilizando diferentes dinâmicas e inúmeros instrumentos. Não irei, aqui, defender este ou aquele método; material “X” ou currículo “Y”... O que gostaria de defender é a necessidade de adequarmos os “meios” às peculiaridades e necessidades de cada criança.
Cada pessoa é um ser especial e único, com potenciais e deficiências diferentes. As peculiaridades de cada criança fazem com que certos meios de se transmitir as informações sejam mais ou menos eficientes – e isso deve ser observado por qualquer pai que pretenda instruir seus rebentos no próprio lar.
Para ilustrar o que estou tentando dizer, tomo como exemplo uma família que venho acompanhando há algum tempo, e que tem instruído seus dois filhos em casa. O mais velho (menino) possui uma mente lógica e sistemática, muito voltada ao intelectualismo. Já a mais nova (menina) é muito mais ativa fisicamente, e possui tendências muito mais criativas, musicais e artísticas. Ambos estão sedentos por aprender, mas cada um possui características totalmente diferentes do outro.
Não demorou muito para os pais se depararem com dificuldades para ensinar a filha da mesma forma que haviam ensinado o filho...
Os materiais, as dinâmicas, as estratégias que haviam funcionado com o menino, nem de longe eram eficientes para a menina. Diante desse quadro, como ensinar os mesmos conhecimentos? E comunicação teve que ser mudada. O conhecimento, as informações, os objetos de estudo continuavam os mesmos, mas a forma de mediá-los teve que ser drasticamente revista e modificada.
Qual foi a solução? Os pais selecionaram materiais didáticos diferentes, que trabalhavam mais com a criatividade, utilizavam mais desenhos, músicas didáticas, etc. Resultado: a menina adquiriu os mesmos conhecimentos e as mesmas habilidades/competências que o irmão, mas em um ritmo diferente e de uma forma diferente.
Sei que isso demanda muita pesquisa e esforço por parte dos pais, mas um cuidado essencial quando se pretende instruir os filhos é selecionar a forma mais adequada de transmitir as informações e exercitá-las, tendo por base as peculiaridades do sujeitinho.
Algumas crianças são mais ativas fisicamente, outras são mais criativas, outras são mais lógicas, outras são mais musicais, outras são mais visuais... Enfim, precisamos conhecer bem nossos filhos para saber qual será a forma mais eficiente de ensiná-los.
Há uma infinidade de métodos, currículos, materiais, atividades, etc., que podem ser selecionados e utilizados. Mas cabe a nós avaliar o que será mais produtivo para nossas crianças.
Volto a dizer que, de qualquer forma, a criança irá aprender. Mesmo que você não utilize o melhor material ou o melhor método, com certeza seu filho irá adquirir os conhecimentos e aptidões necessários (pelo menos os mais básicos). Entretanto, utilizar uma comunicação adequada irá, não somente acelerar o processo de ensino-aprendizagem, mas também irá qualificar ainda mais esse processo, bem como potencializar a expansão e aplicação desses conhecimentos/habilidades na própria vida da criança.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cuidados na Ed. Domiciliar - Rotina/Constância

Um outro elemento de suma importância para qualquer processo educativo é a rotina. Para não cair no mesmo erro do artigo sobre planejamento, quero deixar claro desde já que não me refiro à mera repetição diária de tarefas pré-estabelecidas – conceito este que pode surgir em um primeiro momento ao se pensar no sentido de “rotina”. E foi justamente para não passar essa noção errônea que incluí no título deste artigo “constância” como sentido correlato de “rotina”.
Talvez muitos defensores de uma educação mais livre estejam incomodados com esse tema, considerando ser a rotina uma forma de “engessar” o desenvolvimento natural das crianças. Porém, peço que continuem lendo com a mente aberta, pois verão que a rotina/constância tem tudo a ver com uma aprendizagem natural...
Se é assim, onde podemos ver a rotina/constância na natureza? Ela está presente no processo de aprendizagem de inúmeros seres vivos... Por exemplo: várias espécies de aves, sistematicamente, lançam seus filhotes do ninho em queda livre para que aprendam a voar. A pequena ave nunca consegue voar na primeira tentativa, mas seus pais repetem esse processo inúmeras vezes, até que seu rebento alce o primeiro voo. A rotina, a constância e, por que não dizer, a repetição do exercício fazem com que os músculos e o cérebro dos passarinhos sejam exercitados e vão se preparando para a execução do ato primário e para o desenvolvimento da habilidade/competência relacionada a ele.
A mesma estratégia de utilizar a rotina/constância é verificada em predadores que utilizam “brincadeiras” para ensinar seus filhotes a caçar e em presas que criam oportunidades para desenvolver em suas crias a habilidade de fugir, se esconder ou se defender de alguma forma. Na verdade, em praticamente todo o reino animal vemos os pais utilizando a rotina, a constância e a repetição para desenvolver habilidades, competências e capacidades em seus filhotes.
Com isso não estou querendo minimizar o ser humano, nos reduzindo a animais... Longe disso! Mas considerei pertinente utilizar o reino animal como analogia para demonstrar como a rotina/constância não torna o processo de ensino-aprendizagem não-natural, mas que faz sim parte do desenvolvimento de qualquer ser.
Quanto a isso, cabe ressaltar que a rotina/constância é essencial, principalmente, para fortalecer as ligações neurais. O que isso significa? Vejamos...
Em termos biológicos, a aprendizagem ocorre quando os neurônios de um sujeito criam ligações entre si. Essas novas ligações trazem, consigo, o desenvolvimento de novas habilidades e competências para o ser. Assim, uma criança aprende na medida em que, pelas experiência que vai tendo, seus neurônios vão criando mais ligações entre si.
A rotina/constância cria novas ligações? Não necessariamente... Porém, sua função fundamental é fortalecer as ligações existentes. Explico: ao passar por uma experiência nova, realizar um trabalho diferente ou receber estímulos específicos, o sujeitinho, imediatamente, começa a criar ligações neurais. Isso é automático. Porém, essas ligações nunca são formadas de maneira 100% corretas na primeira vez – por isso uma criança nunca aprender algo por completo “de primeira”. Na medida em que o mesmo ensinamento (de qualquer ordem) é repetido em outro momento, de outra forma, por outro sujeito, etc., as partes “certas” das ligações criadas inicialmente vão se fortalecendo, enquanto as partes “erradas” vão se enfraquecendo. Logo, a rotina/constância faz com que o desenvolvimento de ligações produtivas (aprendizagem) seja mais eficiente e que a força dessas ligações seja suficiente para que o aprendizado seja bem fixado e duradouro.
Diante disso, não há como negar: a rotina/constância é sim natural e necessária para qualquer processo educativo.
Mas, como isso se materializa na prática?
Em primeiro lugar, o fato de haver um momento de estudos todos os dias já se constituiu um grande salto para o desenvolvimento da criança. Pode parecer algo superficial ou banal, mas o simples fato de inserir no cotidiano da criança um momento específico para o aprendizado intencional gera resultados surpreendentes.
E se não houver esse momento? Se o ensino for mais “livre” e ocorrer em qualquer momento do dia? A criança deixará de aprender? DE FORMA ALGUMA! Estar inserida em um ambiente com conhecimento já é o suficiente para que uma criança aprenda. Na verdade, o sujeitinho está aprendendo o tempo todo – sabendo disso ou não...
Independente do que fizermos, a criança irá aprender. Porém, ao guiar os pequeninos a dedicar um tempo específico todos os dias (ou, pelo menos, em alguns dias determinados) para o estudo, estamos auxiliando no desenvolvimento da habilidade de compreender e separar momentos distintos (juntamente com as atividades e comportamentos específicos esperados para cada um desses momentos).
É indispensável que um sujeito tenha a competência de saber agir com uma conduta adequada em diferentes momentos (no trabalho, na família, na igreja, em festas, etc.) sem perder sua identidade. E, ao inserir diferentes momentos no dia-a-dia da criança (momento de brincar, de comer, de estudar, de realizar higiene, etc.) estamos auxiliando no desenvolvimento dessa habilidade.
Em segundo lugar, rotina/constância é algo essencial para ajudar no desenvolvimento da responsabilidade e do senso de dever da criança. Por exemplo: sabendo que deverá dedicar três horas do seu dia para o estudo, o sujeitinho terá que se organizar para cumprir essa meta de forma satisfatória. Não podemos negar que, durante a vida, todos precisamos lidar com pressão, com metas, com horários, etc., e inserir isso desde cedo para a criança, através de uma forma agradável e leve (mediante a rotina de estudos), irá potencializar muito o desenvolvimento dessas competências.
Enfim, faltaria tempo e espaço para falar sobre inúmeros outros benefícios da rotina/constância, como seu efeito calmante nas crianças, ou a potencialização da absorção de conteúdos que ela proporciona... Mas, para encerrar este artigo, gostaria de ressaltar que a rotina/constância, apesar de necessária, não precisa ser algo tão rígido que exclui qualquer possibilidade de mudança...
De fato, podemos materializar a rotina/constância de formas muito variadas e criativas:

  • Podemos determinar um horário específico para o ensino (ex: das 8h às 11h);
  • Podemos determinar uma carga-horária para ser cumprida, independentemente do horário (ex: três horas de estudo por dia, em qualquer horário);
  • Podemos determinar um horário de início do período de ensino, com fim indeterminado, dependendo da conclusão de tarefas específicas (ex: o momento de ensino começa às 8h e vai até a criança terminar cinco páginas do livro de estudo + uma tarefa especial).

Enfim... há infinitas formas de se organizar a rotina. O importante é que fique claro para a criança qual será seu dia-a-dia com relação ao estudo.
É claro que, durante todo o dia, o conhecimento e o ensino devem estar ao redor da criança. De forma alguma o aprendizado deve estar restrito ao momento de estudo intencional!!! Não é isso que estou propondo! O momento de estudo é importante, a rotina/constância é importante, mas o aprendizado não pode ficar limitado a esse momento.
Devemos criar um ambiente no qual o sujeitinho estará imerso constantemente no conhecimento. E, nesse ambiente, o momento de estudo intencional será um período fixo em que o aprendizado será mais concentrado e sistematizado, potencializando o processo educacional e desenvolvendo diversas competências necessárias para o sujeito.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...