segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Benefícios da Ed.Domiciliar (Parte VI)

Contato e Envolvimento Familiar
Em praticamente todas as correntes teóricas relativas à Pedagogia ou à Psicologia do Desenvolvimento há um denominador comum quanto à importância do contato familiar para o pleno desenvolvimento de um sujeito saudável.
Sabemos que o contato social como um todo é necessário para a formação de um ser humano. Porém, é no seio da família que a criança passará pelas primeiras experiências sócio-afetivas – as quais se constituem como o fundamento que irá dar sustentação à forma de compreender e reagir a toda e qualquer relação social posterior.
O que isso quer dizer?
Isso quer dizer que é dentro das relações familiares que a criança aprende a lidar com regras, limitações, diferença de papéis, colaboração, choque de interesses, troca de afetividade, empatia, suas próprias emoções e as dos outros. A forma como o sujeito vai lidar com esses elementos na macro-sociedade depende diretamente de sua vivência na micro-sociedade chamada família.
Neste sentido, vemos o perigo de inserir prematuramente uma criança em um ambiente social totalmente distanciado do núcleo familiar. Isso faz com que o sistema nervoso do sujeitinho passe a tentar interpretar, compreender e aplicar regras de convívio complexas cujas bases ainda não estão formadas.
É óbvio que um sujeito não pode ser relegado a conviver para sempre exclusivamente com sua própria famílianão estamos propondo isso! Mas, o que queremos demonstrar é que a saída da família em direção ao resto do mundo deve ocorrer de forma gradativa, progressiva e planejada, tendo respeito pelo estágio de desenvolvimento sócio-afetivo da criança.
Diante disso, vemos mais uma vantagem da Educação Domiciliar, uma vez que, não somente permite, como exige um acompanhamento muito mais próximo da família. Na verdade, a Educação Domiciliar é, em sua essência, uma atividade familiar.
Mesmo com o apoio e acompanhamento de profissionais pedagógicos, os atores principais do processo educativo domiciliar são pais, mães, filhos, irmãos, primos, etc.
Por envolver toda a família no processo de ensino-aprendizagem, o homeschooling estreita os laços afetivos entre os sujeitos e, não somente isso, mas, por seu caráter planejado e elaborado, permite vivências que potencializam muito o desenvolvimento sócio-afetivo da criança.
Através da Educação Domiciliar a criança passa a ter que interpretar e compreender:


  • rotina;
  • diferenciação de momentos dentro dessa rotina (brincadeira, estudo, alimentação, etc.);
  • necessidade de diferentes regras para cada momento dentro da rotina;
  • diferença de papéis exercidos por cada membro da família de acordo com o momento e a atividade; etc.


Por exemplo: uma criança ensinada em casa terá oportunidade de ver sua mãe exercendo o papel de preceptora em um momento e, algum tempo depois, exercendo o papel de alimentadora preparando a refeição. Aquela mulher continua sendo “a mãe”, mas, em momentos diferentes, exerce funções diferentes. Isso permite que a criança comece a compreender que os sujeitos não estão enquadrados em perfis rígidos e exclusivos de caracterização.
Uma criança que passa por períodos intensos de convívio social dentro de sua própria família estará mais apta a se relacionar com outros sujeitos (fora de sua família) quando for inserido em momentos diversos.
Com efeito, isso demonstra categoricamente que as críticas à Educação Domiciliar pautadas na acusação de que homeschoolers apresentarão deficiência social estão extremamente equivocadas.
Ao ensinar em casa, os pais estão propiciando as relações necessárias para preparar o sujeito para o convívio extra-familiar. Já as crianças que passam pouquíssimo tempo com suas famílias, essas sim correm um grande risco de se tornarem sujeitos com deficiências, problemas e, até, patologias sociais, pois não receberam as bases essenciais de convívio social propiciadas pelo convívio familiar.
Agora, há de se considerar que é extremamente necessário que os pais-mestres tenham em mente a necessidade de, aos poucos, inserir seus filhos-alunos em outros ambientes sociais. Quando se trata de Educação Domiciliar, deve haver cuidado redobrado para não se cair no erro de “trancar” a criança somente no convívio da família. O convívio familiar é essencial, mas não exclusivo.
O contato e o envolvimento familiar é sim uma grande vantagem do homeschooling, entretanto, não devemos levar isso ao extremo, achando que somente esse convívio será suficiente para nossas crianças. Se assim o fizermos, estaremos dando razão a todos que, equivocadamente, acusam a Educação Domiciliar de acabar com a socialização das crianças.

4 comentários:

  1. Muitas vezes os pais encarregam as escolas, e "as pagam para isso", para fazer de seus filhos indivíduos formados; e se algo deu errado, ou seja, um filho virou um marginal por exemplo, será mais fácil colocar a culpa na escola que foi "paga para o educar". Os pais não podem planejar ter filhos e atira-los nos braços de "desconhecidos" para os formarem cidadãos. Parece que o convívio dos pais ensinando os filhos foi deixado de lado, antigamente os filhos seguiam a profissão dos pais, os respeitavam mais, mas a distância entre os pais e filhos tem aumentado. Assim algumas perguntas gritam em nossa cabeça: Será que pais tem gerados filhos para que? Pra tirá-los para brincar por um tempo? Será que a verdadeira essencia de conceber uma vida não precisa ser resgatada? Quem é o marginal, quem está abandonando?

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  2. Olá, Elgy!
    Você realmente levantou pontos muito importantes sobre o assunto... Não podemos ignorar, de forma alguma, que a situação geral da sociedade sempre será um reflexo da educação e, consequentemente, das escolhas macro e micro relacionadas a ela.

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  3. Olá Fabio,
    descobri seu blog hoje e estou gostando muito! Não tenho filhos, mas sou educadora e me interesso muitíssimo por homeschooling. Tenho uma questão que talvez você possa me ajudar a responder: como fazer para inserir as crianças que estudam em casa em diversos ambientes sociais sem que elas mesmas, em contato com outras crianças e outras pessoas, se "denunciem" como homeschoolers? A meu ver, não há muito como controlar isso... Nos EUA existem várias comunidades onde as famílias que fazem homeschooling se encontram e fazem atividades juntas, mas no Brasil não podemos contar com isso. O que você acha disso? Qual a melhor maneira de inserir as crianças em grupos sociais que não a família?
    Parabéns pelo blog!

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  4. Obrigado pelo contato, Mari!
    Você levantou questões muito interessantes e difíceis de se responder... hehe
    Mas, se você tiver paciência, nas próximas semanas estarei trabalhando um pouco sobre o tema. Iremos iniciar na próxima semana uma série de artigos sobre cuidados que devem ser tomados quando se instrui crianças em casa. O foco das postagens será a aplicação efetiva das aulas, mas creio ser importante dedicar, pelos menos, uma delas a como direcionar as crianças para que elas mesmas não "denunciem" os pais.
    Sobre as comunidades de pais de homeschoollers, isso deverá surgir no Brasil conforme a Educação Domiciliar for regulamentada e o interesse pela mesma for aumentando. Enquanto isso não ocorre, há sim formas de inserir a criança de forma adequada em outros meios sociais, e dedicarei um artigo para isso também.
    Desculpe não lhe responder agora, mas creio que os artigos serão mais completos e esclarecedores - apesar de demorarem um pouco mais.
    Mais uma vez, obrigado pela participação!

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Agradeço sua participação... ela é muito importante!

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