segunda-feira, 19 de julho de 2010

Benefícios da Ed.Domiciliar (Parte III)

Desenvolvimento da capacidade de produção intelectual
Em primeiro lugar, vamos aos termos: produção intelectual” se refere a todo e qualquer produto que seja fruto de pesquisa ou de diferentes exercícios intelectuais.
Talvez o exemplo mais característico e conhecido de produto intelectual seja o livro. Todo e qualquer livro é fruto de um processo mental – trate ele de uma história fictícia, de descobertas científicas ou de qualquer outro tema. O livro é, claramente, uma produção intelectual. Entretanto, não é o único – há uma grande diversidade de tipos de produção intelectual, seja quanto a sua forma, função, linguagem, nível de aprofundamento ou qualquer outro aspecto.
Apesar dessa grande variedade, o que nos interessa é saber que o processo de criar produtos intelectuais é o que “move o mundo” em termos de conhecimento. Os avanços que temos visto há séculos em nossa sociedade só foram possíveis porque pensadores e pesquisadores fizeram suas descobertas e as compartilharam com o resto da humanidade através de algum produto intelectual. Na verdade, toda a lógica de distribuição e mediação de conhecimento é fundamentalmente pautada na existência de elementos que “materializem” e tornem disponível o conhecimento.
Como exemplo da importância da produção intelectual podemos citar a Idade Media. Nesse período, grande parte dos livros, manuscritos e outros elementos produzidos através dos séculos anteriores foram, simplesmente, perdidos, destruídos ou ignorados. Isso fez com que a humanidade regredisse e precisasse refazer infindáveis descobertas no campo do conhecimento. Não é de se estranhar que os modelos do planeta Terra da Idade Media mostrem um planeja plano, enquanto a forma elíptica de nosso mundo já houvesse sido descritas muitos séculos antes...
Dada a importância da produção intelectual, não se pode medir a atual necessidade de que os conhecimentos e descobertas sejam materializados em algum produto (físico ou virtual) para que o restante da humanidade (inclusive, nas próximas gerações) tenha acesso ao que é pensado ou praticado hoje. Com efeito, sejam descobertas, redescobertas, novas leituras ou mera descrição, a humanidade cognitiva precisa de uma constante e massiva produção intelectual.
Infelizmente, o desenvolvimento da capacidade de elaboração de produtos intelectuais parece estar sendo restringida à academia... Não vemos professores incentivando alunos da Educação Básica a produzir (de verdade). Há sim a produção de trabalhos, porém estes são meramente avaliativos e pautados em pesquisas copistas e no “regurgitar do conhecimento” de uma educação bancária1. Em geral, as crianças brasileiras não estão produzindo, mas reproduzindo.
O desenvolvimento intelectual e tecnológico seria muito maior, mais rápido e eficiente se a população como um todo estivesse equipada com os aparatos (concretos ou abstratos) necessários para produzir desde sempre. Mesmo que nem todo o produto intelectual fosse apropriado, útil ou inovador, o simples fato de sermos uma “população que produz intelectualmente” potencializaria de uma forma inigualável os avanços em termos de conhecimento. Se estivéssemos incentivando nossos filhos a produzir intelectualmente, todos os anos veríamos uma enxurrada de novas fórmulas matemáticas, circuitos eletrônicos, pensamentos filosóficos, inovações no esportes e exercícios físicos, gêneros literários, e tantos outros produtos que nem poderíamos imaginar neste momento.
E, neste sentido, a Educação Domiciliar se apresenta como uma modalidade que estimula de forma extraordinária a produção intelectual. Como dissemos anteriormente, a naturalização da educação gera o autodidatismo, que gera uma atitude pesquisadora que culmina na produção intelectual. O aluno domiciliar não se contenta com o que aprende em seus livros didáticos, ou com as explicações de seus pais-mestres, mas parte destes pontos para “saltar” na direção do conhecimento, realizando pesquisas diversas para se aprofundar no aprendizado. Mediante o direcionamento adequado, essas jornadas intelectuais irão se materializar em produtos intelectuais. O homeschooler irá começar, meramente, descrevendo o que descobriu, mas logo estará analisando os dados, comparando informações, raciocinando sobre as descobertas e chegando às suas próprias conclusões – as quais terá, naturalmente, desejo de compartilhar com outros.
Uma geração inteira de pesquisadores-produtores geraria um salto qualitativo e quantitativo em termos de produção intelectual como nunca se viu na história da humanidade. Isso pode parecer um tanto utópico, mas pode começar pelo homeschooling, ou seja, pode começar em nossas próprias casas!
Diante disso, não podemos negar: o desenvolvimento de uma capacidade de realizar produções intelectuais desde a infância é uma das grandes vantagens proporcionadas pela Educação Domiciliar.
1 Nome dado por Paulo Freire à concepção de educação na qual o educador “deposita” no educando uma grande quantidade de informação, esperando “sacar” esse capital cultural através de sua reprodução em provas e trabalhos acríticos.

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