terça-feira, 26 de abril de 2011

Um ponto negativo...


Através dos anos, como pesquisador e defensor da Educação Domiciliar, respondi muitas perguntas sobre esse tema. Mas, de todas as questões já levantadas, a mais difícil de responder sempre foi a seguinte: “Quais são os pontos negativos de se ensinar em casa?”.
De fato, nunca consegui dar uma resposta satisfatória a essa pergunta, pois, definitivamente, tenho muita dificuldade em visualizar problemas no ensino domiciliar em si. O que existe aos montes são problemas de contexto, tais como: falta de material didático, ausência total de um dos pais, carência de recursos, instabilidade familiar, etc. Trataremos mais sobre esses problemas de contexto em uma publicação futura, mas, para hoje, basta-nos entender que esses não são pontos negativos da modalidade em si, mas do ambiente no qual a modalidade estará sendo aplicada. Ao nos referirmos ao ensino domiciliar, os pontos negativos são muito escassos.
Entretanto, hoje pela manhã, enquanto lia algumas tirinhas da personagem Mafalda, me deparei com uma realidade macabra com relação ao ensino em casa... Uma vez que ensinar em casa faz do aprendizado uma constante na vida do aluno-domiciliar, essa naturalização do conhecimento no cotidiano do sujeitinho o leva a nunca encerrar o processo de adquirir conhecimentos e desenvolver habilidades/competências. Dessa forma, os estudos não se encerram no “Terceiro ano do Ensino Médio”, nem após a Graduação, Pós-Graduação... Neste sentido, o fato mórbido por trás da educação domiciliar é que, para todos que aprendem em casa, a formatura sempre é um velório...
Abaixo deixo a tirinha que inspirou o pensamento expresso no parágrafo anterior:
(clique para ampliar)
Esta tirinha está sendo utilizada somente para fins didáticos. Todos os direitos sobre esta tira e seus personagens pertencem ao cartunista argentino Quino.
Antes que surjam inúmeros mal-entendidos, explico-me: o caráter deste texto, até o momento, foi cômico/sarcástico... Verdadeiramente, não pretendia caracterizar a “formatura-velório” como um ponto negativo real para o ensino em casa. Caso alguém tenha ficado escandalizado com essa pitada de humor negro em minha postagem, peço perdão, mas me dei a liberdade de usar esse artifício para chamar a atenção dos leitores e, ao mesmo tempo, levar a uma reflexão mais profunda sobre o que realmente podemos tirar de lição dessa tirinha e do pensamente por trás dela...
O que realmente vejo por trás do diálogo das personagens, não é que há uma grande tristeza por ser um velório a festa de formatura de quem aprende com a vida. Mas, sim, que há uma grande alegria ao se perceber que quem aprende de forma natural não está fadado ao encerramento do aprendizado marcado pelas chamadas formaturas ou colações de grau...
De fato, não sou contrário a esses eventos. Eles, em si, não caracterizam algo negativo. Inclusive, concordo que é positivo haverem momentos de passagem entre uma fase e outra do desenvolvimento, pois isso ajuda na organização de objetivos e metas para uma pessoa. Entretanto, o que me incomoda é a mentalidade geral de que a colação de grau constitui-se um marco final. Basta conversar meros minutos com qualquer formando para constatar-se que estão ansiosos pela formatura porque, depois dela, poderão descansar, relaxar, parar de estudar (pelo menos, por algum tempo). Essas pessoas estão lutando contra o conhecimento, tentando vencê-lo para, então, se formar e, enfim, para sua batalha. Elas não estão desejosas por aprender, mas por se formar, por receber um certificado/diploma. Para eles, a formatura/colação é o fim dos estudos, e não um marco de passagem para a próxima fase.
Essa, definitivamente, é uma mentalidade que não vejo nos alunos-domiciliares. Para estes, o aprendizado é uma constante e, na mesma medida, as colações constituem-se ritos de passagem para a próxima etapa de aprendizado. Numa situação de ensino doméstico, "estudar" se torna o verbo mais conjugado pela pessoa, e isso se estende até seu último fôlego de vida. Enquanto o homeschooler está vivo, está aprendendo.
Olhando por este prisma, como podemos ver algo negativo nesse tipo de aprendizado? Como podemos dizer que há algo ruim em se aprender naturalmente e globalmente?
Peço desculpas a todos que ainda me questionarão sobre os pontos negativos da educação domiciliar, mas, definitivamente, essa é uma pergunta que continuarei a ter muita dificuldade em responder...

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sobre Livros e Maçãs – ou: Onde mora o conhecimento?


Hoje pela manhã, após o café, desci até meu quarto e respirei fundo enquanto olhava para a bela paisagem que fica ao redor da fazendo onde moro... Enquanto contemplava o céu, as plantas, o relevo e todos os outros elementos daquele “cartão-postal natural”, veio-me um pensamento rápido e profundo: “Quanta beleza e conhecimento há neste mundo! E não é algo inacessível... Está aí, para quem quiser. Para admirar, basta ver. Para conhecer, basta contemplar. Para adquirir conhecimento, basta procurá-lo”.
Logo após isso, lembrei-me das conclusões de Ivan Illich, que considerava a sociedade ocidental moderna uma sociedade institucionalizada, ou seja, que somente valorizava e reconhecia como legítimo aquilo que vinha de instituições. Neste sentido, saúde, segurança, educação, cultura e qualquer outro elemento, para ser alcançado, precisava, necessariamente, ser oferecido por alguma instituição (organização, associação, empresa, etc.).
Hoje em dia, vários consideram que não estamos mais na Era Moderna, mas na Pós-Moderna. Já outros discordam desse termo, ou mesmo, não consideram termos passado de uma Era a outra... Independente dessa discussão, o fato é que continuamos com uma mentalidade institucionalizada, tal qual nossos pais, avós e, talvez, até, bisavós. Ainda confundimos saúde com número de hospitais, segurança pública com contingente policial, soberania nacional com poderio militar e educação com número de escolas e taxa de aprovação.
Com efeito, não pretendo criticar as instituições. De forma alguma! Elas são muito úteis, e não devem deixar de existir. O que venho criticar, mais uma vez, é a mentalidade institucionalizada – em especial, com relação à educação. Afinal, o conhecimento não está na escola, na universidade ou na biblioteca. Estes são pontos de acesso a algumas informações, mas não são a “morada do conhecimento”, como muitos afirmam.
É muito importante desconstruirmos essa ideia, ou melhor, essa mentalidade – que está impregnada em nós – , pois ela atrapalha grandemente nosso desenvolvimento pessoal, intelectual e sócio-afetivo.
De fato, uma das críticas mais fortes contra a Educação Domiciliar é o mito de que o aluno-domiciliar não recebe uma educação forte o suficiente por não ter acesso aos “templos do conhecimento”, ou seja, às instituições educacionais. Os críticos consideram que a criança irá se tornar “manca” intelectualmente por não ter acesso direto à “morada do conhecimento”. Entretanto, o que essas pessoas se esquecem é que a criança que aprende no lar não está acorrentada ao chão de sua casa, nem trancafiada em seu quarto, mas tem acesso aos bens culturais e intelectuais da humanidade tanto quanto qualquer outro sujeito.
Nada impede o aluno-domiciliar de ir à biblioteca pública, ou ao museu, zoológico, ou a qualquer outro ponto de troca de informação/conhecimento. Na verdade, tenho observado que as famílias que ensinam em casa tendem a frequentar esses ambientes muito mais do que aquelas em que as crianças são ensinadas em instituições.
Se me permitem, gostaria de ser ousado e ir um passo além... Mesmo quando não há o acesso direto a esses pontos de troca de informação, o aprendizado é possível. Afinal, o conhecimento está aí, bastando ser descoberto.
Infelizmente, muitas vezes, nos esquecemos de um fato simples, lógico e óbvio: o conhecimento não nasce nos livros. Ao contrário, o conhecimento é adquirido e, somente então, é traduzido em escrita para que mais pessoas tenham acesso a ele. Com efeito, as grandes descobertas do mundo foram feitas no mundo e, somente depois, registradas em volumes que pudessem transmitir esses conhecimentos aos demais seres humanos – inclusive, para as futuras gerações.
Permitam-me dar um exemplo prático...
Hoje, praticamente todos conhecemos o conceito de gravidade. Sabemos que a gravidade é uma força que, de alguma forma, faz com que os objetos se atraiam entre si. Como sabemos disso? Através da transmissão do conhecimento proporcionada pelos livros e outras formas de registro. Da mesma forma, temos conhecimento da popular lenda sobre Isaac Newton e a maçã... Sendo essa história verdadeira ou não, ela ilustra bem o fato de que o conhecimento está aí, o tempo todo, bastando-nos descobri-lo. A macieira esteve ali durante anos, produzindo suas maçãs e tendo as mesmas atraídas pela força da gravidade. Bastou a Newton observar, analisar e “agarrar” o conhecimento.
Obviamente, a lei da gravitação universal não surgiu de forma tão simples... Newton estudou durante anos sobre teorias, esquemas e fórmulas propostos desde os filósofos da Era Clássica, na Grécia Antiga... Entretanto, Newton e sua maçã nos servem de figura para compreender como o conhecimento pode estar na frente de nossa casa, esperando para ser “agarrado” por uma mente curiosa e sedenta por aprender.
Hoje, o desafio que lanço a todos vocês é este: descubram o universo! Observem, analisem, contemplem, raciocinem e busquem descobrir o conhecimento que há em todos os locais – tanto na biblioteca, quanto na internet, na sua rua, no seu quintal, na paisagem, etc.
Seja como Isaac Newton, que utilizou os livros e a observação da própria natureza; que se baseou em conhecimentos de outros, mas os extrapolou através de suas experiências pessoais; que promoveu a comunhão entre os livros e um passeio no jardim.
Afinal, essa não seria a essência de uma aprendizagem natural?
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