terça-feira, 19 de abril de 2011

Sobre Livros e Maçãs – ou: Onde mora o conhecimento?


Hoje pela manhã, após o café, desci até meu quarto e respirei fundo enquanto olhava para a bela paisagem que fica ao redor da fazendo onde moro... Enquanto contemplava o céu, as plantas, o relevo e todos os outros elementos daquele “cartão-postal natural”, veio-me um pensamento rápido e profundo: “Quanta beleza e conhecimento há neste mundo! E não é algo inacessível... Está aí, para quem quiser. Para admirar, basta ver. Para conhecer, basta contemplar. Para adquirir conhecimento, basta procurá-lo”.
Logo após isso, lembrei-me das conclusões de Ivan Illich, que considerava a sociedade ocidental moderna uma sociedade institucionalizada, ou seja, que somente valorizava e reconhecia como legítimo aquilo que vinha de instituições. Neste sentido, saúde, segurança, educação, cultura e qualquer outro elemento, para ser alcançado, precisava, necessariamente, ser oferecido por alguma instituição (organização, associação, empresa, etc.).
Hoje em dia, vários consideram que não estamos mais na Era Moderna, mas na Pós-Moderna. Já outros discordam desse termo, ou mesmo, não consideram termos passado de uma Era a outra... Independente dessa discussão, o fato é que continuamos com uma mentalidade institucionalizada, tal qual nossos pais, avós e, talvez, até, bisavós. Ainda confundimos saúde com número de hospitais, segurança pública com contingente policial, soberania nacional com poderio militar e educação com número de escolas e taxa de aprovação.
Com efeito, não pretendo criticar as instituições. De forma alguma! Elas são muito úteis, e não devem deixar de existir. O que venho criticar, mais uma vez, é a mentalidade institucionalizada – em especial, com relação à educação. Afinal, o conhecimento não está na escola, na universidade ou na biblioteca. Estes são pontos de acesso a algumas informações, mas não são a “morada do conhecimento”, como muitos afirmam.
É muito importante desconstruirmos essa ideia, ou melhor, essa mentalidade – que está impregnada em nós – , pois ela atrapalha grandemente nosso desenvolvimento pessoal, intelectual e sócio-afetivo.
De fato, uma das críticas mais fortes contra a Educação Domiciliar é o mito de que o aluno-domiciliar não recebe uma educação forte o suficiente por não ter acesso aos “templos do conhecimento”, ou seja, às instituições educacionais. Os críticos consideram que a criança irá se tornar “manca” intelectualmente por não ter acesso direto à “morada do conhecimento”. Entretanto, o que essas pessoas se esquecem é que a criança que aprende no lar não está acorrentada ao chão de sua casa, nem trancafiada em seu quarto, mas tem acesso aos bens culturais e intelectuais da humanidade tanto quanto qualquer outro sujeito.
Nada impede o aluno-domiciliar de ir à biblioteca pública, ou ao museu, zoológico, ou a qualquer outro ponto de troca de informação/conhecimento. Na verdade, tenho observado que as famílias que ensinam em casa tendem a frequentar esses ambientes muito mais do que aquelas em que as crianças são ensinadas em instituições.
Se me permitem, gostaria de ser ousado e ir um passo além... Mesmo quando não há o acesso direto a esses pontos de troca de informação, o aprendizado é possível. Afinal, o conhecimento está aí, bastando ser descoberto.
Infelizmente, muitas vezes, nos esquecemos de um fato simples, lógico e óbvio: o conhecimento não nasce nos livros. Ao contrário, o conhecimento é adquirido e, somente então, é traduzido em escrita para que mais pessoas tenham acesso a ele. Com efeito, as grandes descobertas do mundo foram feitas no mundo e, somente depois, registradas em volumes que pudessem transmitir esses conhecimentos aos demais seres humanos – inclusive, para as futuras gerações.
Permitam-me dar um exemplo prático...
Hoje, praticamente todos conhecemos o conceito de gravidade. Sabemos que a gravidade é uma força que, de alguma forma, faz com que os objetos se atraiam entre si. Como sabemos disso? Através da transmissão do conhecimento proporcionada pelos livros e outras formas de registro. Da mesma forma, temos conhecimento da popular lenda sobre Isaac Newton e a maçã... Sendo essa história verdadeira ou não, ela ilustra bem o fato de que o conhecimento está aí, o tempo todo, bastando-nos descobri-lo. A macieira esteve ali durante anos, produzindo suas maçãs e tendo as mesmas atraídas pela força da gravidade. Bastou a Newton observar, analisar e “agarrar” o conhecimento.
Obviamente, a lei da gravitação universal não surgiu de forma tão simples... Newton estudou durante anos sobre teorias, esquemas e fórmulas propostos desde os filósofos da Era Clássica, na Grécia Antiga... Entretanto, Newton e sua maçã nos servem de figura para compreender como o conhecimento pode estar na frente de nossa casa, esperando para ser “agarrado” por uma mente curiosa e sedenta por aprender.
Hoje, o desafio que lanço a todos vocês é este: descubram o universo! Observem, analisem, contemplem, raciocinem e busquem descobrir o conhecimento que há em todos os locais – tanto na biblioteca, quanto na internet, na sua rua, no seu quintal, na paisagem, etc.
Seja como Isaac Newton, que utilizou os livros e a observação da própria natureza; que se baseou em conhecimentos de outros, mas os extrapolou através de suas experiências pessoais; que promoveu a comunhão entre os livros e um passeio no jardim.
Afinal, essa não seria a essência de uma aprendizagem natural?

Um comentário:

  1. Juliana - mãe de uma adolescente26 de abril de 2011 às 04:51

    Muito bem colocado o exemplo de Newton neste artigo, creio eu que há muito mais pontos positivos do que negativo no estudo natural, pois leva a criança a buscar o conhecimento por si, porque gosta e se interessa, e não de forma acomodada e bitolada como se tivesser só cumprindo uma obrigação que os professores da escola impoem. Os maiores descobridores foram aqueles que foram atras do conhecimento porque tinham prazer em fazê-lo pela motivação de descobrir algo novo e melhorar o mundo.

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