segunda-feira, 25 de maio de 2009

Educação domiciliar - possibilitando uma aprendizagem natural (Primeira Parte)

Em meu último artigo procurei discutir um pouco sobre a aprendizagem como um processo natural - mesmo estando estreitamente ligado com o convívio social.
Já nesta postagem gostaria de ir além e trabalhar o conceito dá vida a este blog, qual seja: que sendo a aprendizagem um processo natural, seu desenvolvimento proposital e mediado terá maior eficácia sendo administrado no âmago do lócus mais comum e familiar ao sujeito aprendiz.
O que tudo isso significa?
Primeiramente, me refiro ao “desenvolvimento proposital e mediado da aprendizagem” como a educação elaborada, ou seja, aquela através da qual buscamos transmitir à criança os saberes elaborados durante a história humana, bem como desenvolver nela as habilidades necessárias para sua vida social e profissional. Comumente tratamos desse tipo de mediação como “educação escolar”, o que se constitui um equívoco, uma vez que não se trata de um processo exclusivo das instituições escolares.
Neste sentido, considero que essa educação elaborada é proposital porquanto um sujeito a propõe a outro sujeito menos experiente com o propósito de torná-lo mais apto. Da mesma forma a considero mediada pois, neste caso sim, sempre haverá algum tipo de mediação entre o conhecimento existente e o sujeito.
Tendo esses conceitos em mente, dou prosseguimento a meu raciocínio...
Nos últimos séculos temos tentado criar um espaço ideal no qual as crianças possam aprender tendo o aporte de profissionais especializados, metodologias e materiais adequados e uma estrutura especialmente planejada. Chamamos isso de escola. Talvez para a maior parte das pessoas a escola constitua o lócus ideal para a educação elaborada, uma vez que foi criada para isso. Porém, o que muitas vezes nos passa despercebido é que ao tirarmos uma criança de seu lar e a inserimos em uma escola podemos acabar forçando ou artificializando o processo natural de aprender.
Consideremos: o sujeitinho é inserido em um local estranho – diferente de qualquer outra estrutura que já tenha visto – , com dezenas ou centenas de outras crianças que não conhece, precisa se adaptar a regras e rotinas totalmente novas e (aos seus olhos) sem sentido, além de ter que se submeter à autoridade de outros adultos que não reconhece. E para piorar tudo: está totalmente desprovido do sentimento de segurança proporcionado pela presença de sua família.
É nesse ambiente hostil que a criança terá que se esforçar (ou ser forçado) a aprender coisas como ler, escrever e fazer contas – conhecimentos que não lhe fazem o menor sentido (!), uma vez que não os visualiza no dia-a-dia fora da escola.
Não estou afirmando que todas as escolas apresentam a imagem assustadora que pintei no parágrafo anterior... Nem mesmo que a escola não possa se constituir um espaço adequado para uma educação natural... Por favor, não interpretem mal minhas palavras.
Mas tenho sim que testemunhar que, na maior parte das vezes, as instituições criadas e mantidas sob nosso sistema educacional têm apresentam como conseqüência da massificação educacional um quadro igual ou pior do que aquele que aqui apresento...
Neste ponto gostaria de afirmar que não milito pela destruição das escolas. Pelo contrário: admiro muito quem luta por uma educação escolar de qualidade. Eu mesmo ficaria deveras feliz ao ver um Brasil com instituições escolares adequadas auxiliando e maximizando o potencial de aprendizagem das crianças. Porém, minha luta é outra...
Milito pela possibilidade de haver uma alternativa à educação escolar – com efeito, uma alternativa, não um substituto...
Talvez um dia tenhamos escolas com uma qualidade extrema. Mas mesmo assim considero importante termos o direito de educar nossos filhos em casa também...

7 comentários:

  1. Olha, achei bem interessante a sua idéia.
    Eu não entendo tanto sobre educação quanto um pedagogo, mas o jeito com que eu penso a respeito de escolas, e do ensino que elas trazem é mais ou menos parecida com a idéia que você quis mostrar, por isso eu gostei mesmo!
    Realmente se pudessemos ter uma educação melhor nas escolas, uma visão, um foco e um padão de ensino diferente, seria ótimo, mas com certeza ainda não chegamos lá. E, como você disse, também não quero acabar com as escolas, mas, a cada dia que passa eu vejo elas como um lugar aonde só se aprende ler, escrever, fazer contas, noções básicas de conhecimento, mas que falando de caráter e moral, distróem, ou induzem a esse caminho, a maioria dos que a frequentam.

    Se tiver condições, estrutura, e conhecimento pra ensinar em casa, acho a melhor opção, e quanto ao convívio com amigos, colegas, e outras pessoas que também são importantes para o crescimento da criança, pode ser preenchido não só em uma escola, mas em outro lugar, de forma mais saudável pra ela.
    Um forte aperto de mãos...

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  2. Achei muito interessante e muito bem colocado!!Uma perspectiva diferente do que a maioria ver mas tão verdade.

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  3. Olá Fábio!!
    Muito interessante o seu trabalho...concordo com você com a educação domiciliar, principalmente nos anos iniciais (de 4 a 7, 8 anos), pois é extremamente importante o papel da FAMILIA na construção da personalidade, da formação de valores...é algo q me preocupa muito, pois tenho um flho de 5 anos, e gostaria de dar a ele parâmetros muito diferentes dos ensinados na escola... estou tentando passar valores cristãos, ensina-lo a andar e crer, confiar em Deus, e na escola, muitas vezes, ocorre o oposto, a supervalorização do individuo e aquilo que ele mesmo pode alcançar...difícil, não?? Pior é saber que parece que está em vista uma lei que obrigará as crianças a partir de 4 anos (e não mais cinco!!) a frequentar a escola, o que é precoce e no meu ponto de vista nocivo a formação da criança. Acho muito interessante (e importante) se os pais pudessem optar por ensinar os filhos em casa. Claro, não é bem assim, sabemos que é necessário algum conhecimento para alfabetizar, ensinar os primeiros degraus de escolarização... mas creio que seria possível, sim, seria uma alternativa que, a meu ver, benéfica para a criança, que no momento certo, poderia se socializar com o mundo, madura, consciente e segura com o que a familia lhe alicerçou.
    Abraços

    Simone Borba- Nonoai/ RS

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  4. Fabio,

    Meu nome é Juan, eu deixei o sistema educacional com 12 anos. Hoje tenho 36 sou empresario, sou argentino, e falo fluentemente 3 linguas, alem de ser um líder na minha area (engenharia de software). No momento estou liderando uma reforma, que esta sendo feita na industria a rebelia da academia e das instituições que representam o status quo na minha area.

    Porque? porque a industria de software vive em crise desde seu inicio, mais de 80% do que é produzido é lixo, e a causa rais disto é o paradigma da gestão da era industrial o que eu chamo de gestão 1.0, o pensamento de produção em massa, etc.

    O que estamos fazendo para transformar a industria, implantando processos e um novo modelo de gestão, mais alinhada com o trabalhador do conhecimento (gestão 2.0).

    Uma das coisas que estamos fazendo é desmassificar, criar equipes auto-gerenciáveis, ao invés de um gestor, um facilitador, ao invés de alguem que da ordens alguem que faz perguntas e usa o método socrático para que as equipes possam aprender e se auto organizar.

    Isto é basicamente uma mudança de paradigma gigantesca, porem é necessária por uma razão simples, produtividade e eficacia.

    Conforme mais e mais estamos nos encaminhando para uma economia totalmente baseada em conhecimento as empresas precisaram cada vez mais de gente pensante em larga escala (o contrario do que precisava a era industrial) e assim o sistema educacional precisara ser reformado beneficiando e libertando pessoas para desenvolver realmente seu potencial.

    O processo que uso hoje nas equipes é o que uso desde minha infacia, olhando para trás descobri que para me auto educar acabei realizando sistematicamente um processo de me criar um problema, digamos um projeto, algo que queria fazer, mesmo sem saber como, começar a fazer, descobrir que existe um gap no que eu conheço, puxar a teoria necessária, tentar de novo, avançar um pouco, encontrar outro gap, puxar mais teoria, e por ai vai. Eu chamo isto de educação just in time, para que isto funcione será necessário milhões, bilhões de facilitadores, pais e mães, que possam auxiliar seus filhos a aprender, como nunca deveriam ter deixado de aprender.


    Abraços,
    Juan.

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  5. Discorrer acerca da complexidade epistemológica que envolve o processo de aprendizagem e construção/aquisição de conhecimentos não é tarefa fácil. Porém, primeiramente devo parabenizar meu amigo Fabio, que a partir de um recurso tecnológico está socializando seus estudos e pesquisas acerca de uma modalidade educativa pouco discutida no Brasil, a Educação Domiciliar. Primeiramente gostaria de reiterar que, necessitamos de sujeitos disciplinados intelectualmente para atuar no âmbito da docência formal e não-formal, pois penso que é pelo viés da intelectualidade que o processo de humanização ocorrerá com maior êxito e responsabilidade acerca da formação humana.
    Algumas afirmações que o Fábio efetua no âmbito do processo de aprendizagem me intrigam, posto que parto do pressuposto de que ao reportar-se a educação formal não podemos prescindir do ensino intencional e didaticamente organizado, ou seja, não podemos compreender este processo a partir de um viés espontaneísta, porém, sabemos que a aprendizagem é inerente ao ser humano, todavia, ao afirmar que o aprender é inerente ao humano, devemos discernir que aprendizado é este. A escola, enquanto instituição social responsável pela formação de sujeitos, deve ocupar-se com a socialização de conhecimentos científicos, com a condução ao saber erudito, ou seja, com o aprendizado científico e reitero que este pressupõe disciplina e rigorosidade intelectual, posto que estamos imersos na Sociedade do Conhecimento e da Informação que demanda dos sujeitos altos níveis de intelectualidade e afeição ao ato cognitivo..
    Em decorrência do tempo finalizo esta postagem, porém darei continuidade à mesma em outro momento.
    Até mais, Angela Zamoner.

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  6. Parabéns Fabio! Linda percepção do processo pedagógico e muito relevante trazer à tona tal debate, compreendendo a filosofia da práxis como fundamento.
    Profe Cleu

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  7. Oi Fábio!

    Espero que continues escrevendo sobre o homeschooling! Em Portugal chamamos-lhe "ensino doméstico".

    http://ensinodomestico.ning.com/

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Agradeço sua participação... ela é muito importante!

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